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Opinion: Environment

Chegou a Hora Para a Segunda Revolução Verde no Brasil

David Roquetti David Roquetti

Neste post convidado, David Roquetti, Diretor Executivo da Associação Nacional Para Difusão de Adubos (ANDA), analisa as inovações que podem transformar a agricultura na América Latina.

Durante muito tempo, o Brasil foi “o país do futuro”. Mas pelo menos em uma área, este sonho já é realidade. Nos últimos 40 anos, o Brasil liderou uma revolução verde na América Latina, transformando a agricultura tropical e se aproveitando de todos os benefícios dos nossos incomparáveis recursos naturais.

Antigamente importador líquido, o nosso país já é o maior produtor global de açúcar, café e suco de laranja, e o segundo maior produtor de carne bovina, galinha e soja.

Além de ser um grande produtor de alimentos, fibras e energia, o Brasil também é um líder na preservação do meio ambiente, com dois terços do seu território de vegetação nativa preservado ou protegido. Então, com 13,5% da terra arável do mundo, e 15,2% dos recursos hídricos renováveis do planeta, o Brasil tem mostrado como maximizar o seu potencial de produtividade.

Brazil is the world's largest coffee producer (Picture: Donna Bowater)

Brasil é o maior produtor global de café (Foto: Donna Bowater)

Uma das chaves do sucesso, foi uma melhor compreensão da fertilidade do solo, principalmente no cerrado, uma região antigamente considerada marginal para agricultura intensiva.

Durante os últimos 40 anos, o uso de fertilizantes no Brasil aumentou quase 180%, gerando produtividades quase 165% mais altas. Ao mesmo tempo, no entanto, o uso da terra aumentou por menos do que 40%. Isso porque inovações, como melhores fertilizantes e outros insumos, pouparam quase 130 milhões de hectares a serem convertidos em terras agrícolas entre 1976 e 2016, e contribuíram para maiores produtividades nas terras agrícolas já cultivadas.

Embora demonstremos que podemos maximizar o potencial do Brasil para a produtividade, até nos climas mais desafiadores, chegou o momento de assegurar que as altas produtividades sejam completamente sustentáveis. Se vamos garantir a nossa segurança alimentar e a sobrevivência dos nossos preciosos recursos naturais, precisamos de uma segunda revolução verde. Isso significa que temos que encontrar maneiras inovadoras de manter o nosso alto rendimento sem comprometer os nossos recursos naturais.

Felizmente, os nossos pesquisadores já estão fazendo contribuições, tornando a agricultura ainda mais sustentável.

Um exemplo é a expansão de sistemas integrados de agricultura e pecuária que cobrem 11,5 milhões de hectares do país. Estes sistemas integrados e complementares capturam o potencial regenerativo da agricultura: o gado contribui com fertilizantes e aumenta a captura de carbono nos solos, e os resíduos da colheita fornecem alimentação aos animais. Isso nos ajuda a satisfazer a crescente demanda de carne de uma maneira sustentável.

Em outro exemplo, Dr. Heitor Cantarella, vencedor do Prêmio IFA Norman Borlaug este ano, mostrou no seu trabalho no Instituto Agronômico de Campinas (IAC) que é possível reduzir as emissões de óxido nitroso associados com a produção de cana-de-açúcar – um dos nossos cultivos mais importantes – em 95%.

Dr. Heitor Cantarella foi o vencedor do Prêmio IFA Norman Borlaug este ano

Dr. Heitor Cantarella foi o vencedor do Prêmio IFA Norman Borlaug este ano

Dr. Cantarella demonstrou que do uso de inibidores de nitrificação, aplicados a fertilizantes nitrogenados usados em cana-de-açúcar, reduzem a taxa conversão de amônio para nitrato. Isso torna a produção de etanol mais ecológica, uma intervenção importante dado que a indústria de biocombustíveis no Brasil está crescendo.

Uma técnica parecida para fertilizantes de fósforo foi desenvolvida pela equipe do Dr. Cantarella, que resultou em colheitas 25% mais altas de cana-de-açúcar.

Outra inovação importante, defendida por Alfredo Scheid Lopes – outro vencedor brasileiro do Prêmio IFA Norman Borlaug ­– era a aplicação de calcário e fertilizantes nos solos ácidos e pobres, da região dos Cerrados no Brasil, até então considerados marginais para produção agrícola intensiva, para melhorar a produção de plantas com pouca tolerância à acidez e  deficiência generalizada dos nutrientes de plantas. Essa foi uma contribuição importante que, além de garantir a segurança alimentar, evitou o desmatamento de novas áreas sob vegetação de florestas nativas.

Estes são todos bons exemplos, mas para proteger o nosso futuro, temos que melhorar constantemente, e produzir mais com menos. Agora, o Brasil é uma força no negócio de agricultura, mas os benefícios vão ser limitados se não continuarmos focando e envidando esforços em tornar a agricultura brasileira cada vez mais sustentável.

A segunda revolução precisa de mais heróis como o Dr. Cantarella para assumir o desafio de alimentar o Brasil, os seus solos, e o mundo hoje, amanhã e no futuro.

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